"TRISTE", DEDÉ ESCREVE LIVRO SOBRE OS TRAPALHÕES.

Manfried Santana faz questão de frisar: "Não estou magoado com Renato Aragão. Estou apenas "triste". Dedé Santana está triste com Didi Mocó.

Sem emprego fixo --tem dado palestras de "conscientização de funcionários" em empresas-- e há anos sem programa, o "escada" mais famoso do Brasil se mantém na TV com uma peregrinação por atrações, de João Kléber (Rede TV!) a João Gordo (MTV), para dar entrevistas sobre o final dos Trapalhões (foi há mais de dez anos) e falar da frustração por não estar ao lado do ex-companheiro Didi na TV Globo.

O bom ibope e a repercussão das entrevistas fizeram Dedé, 67, tirar um antigo projeto da gaveta: escrever um livro sobre a história dos Trapalhões. Em "Dedé Santana e Seus Amigos Trapalhões" --que deve ser lançado no segundo semestre e está em negociação com uma editora--, ele promete contar "histórias sérias" e fazer "revelações" sobre o quarteto.

Leia a seguir a entrevista.

Folha - Por que escrever um livro sobre os Trapalhões agora?
Dedé Santana -
Tenho essa idéia há muito tempo, pedi para o Mussum e o Zacarias escreverem uma declaração sobre o Dedé, mas eles nunca fizeram. Com a morte deles, deixei a idéia de lado.

Folha - Você conversou com o Renato Aragão sobre o livro?
Dedé -
Eu falei, mas não senti muita boa vontade da parte dele, não... Ao saber do livro, ele me ligou, dizendo: "Toma cuidado com o que você vai escrever".

Folha - Você acha que ele pode ter receio de alguma revelação que o livro venha a trazer?
Dedé -
Ninguém deve ter medo da verdade. Vai ter bastante coisa que vai surpreender o público.

Folha - Ultimamente você foi a vários programas dar entrevistas...
Dedé -
Fui no João Kleber sem saber que era para responder a essas perguntas. Resultou em uma audiência tão grande que fui chamado a vários outros. Mas eu aviso que, se for para falar sobre o Didi, eu não vou. Eu não vou para falar mal de ninguém.

Folha - Sempre perguntam por que ele está na Globo e você não...
Dedé -
Nem sei como responder isso. Eu viajo muito e onde vou o pessoal chega a estar com raiva do Renato. Eu explico que ele não é culpado, que ele não manda na Globo. O pessoal diz: "Ele não manda na Globo, mas, se quisesse, o colocaria no programa".

Folha - Como é a relação com ele?
Dedé -
Gostaria de estar mais com o Renato, mesmo que não seja para trabalhar junto. Tenho uma filha criança que é fã dele. Nós nos falamos às vezes.

Folha - Nunca perguntou ao Renato por que ele não o chamou?
Dedé -
Ele sempre me disse que a Globo não queria relembrar os Trapalhões. Mas "A Turma do Didi" é bem parecida, o que eu acho um erro.

Folha - Hoje você vive do quê?
Dedé -
Faço shows, acompanho meu filho em shows evangélicos. Estou fazendo uma palestra de motivação profissional.

Folha - Por que o Renato ficou mais rico que todos vocês?
Dedé -
Talvez porque ele soubesse negociar melhor, os cachês eram negociados em separado. A única vez que nossos empresários reclamaram por causa disso foi quando houve a separação. A diferença de salário era tremenda...

Folha - De quanto era?
Dedé -
Vou usar um número fictício: se, por exemplo, a gente ganhasse 8, o Didi ganhava 110. Era uma coisa enorme, quem descobriu foi o Mussum.

Folha - Tem planos de voltar à TV?
Dedé -
Estou com dois convites, um da Record, outro da Rede TV!. Também tenho um projeto com o Sérgio Mallandro e o Tiririca. Mas, se o Didi me chamar para voltar a trabalhar com ele, eu vou.

RENATO ARAGÃO REBATE DECLARAÇÕES DE DEDÉ SANTANA.

"O problema do Dedé Santana é com a Globo, não tenho nada a ver com isso", disse Renato Aragão, o Didi, ao ser procurado pela Folha para comentar as declarações do ex-colega.

"Ele foi ser pastor e fazer shows evangélicos; a Globo não quis mais ele. Eles já explicaram isso para o Dedé", afirmou. "Eu não preciso rebater essas coisas, todo mundo me conhece, todo mundo sabe.

"Aragão diz não gostar quando o ex-companheiro vai à TV dar entrevistas sobre o grupo. "Uma vez, ele foi a um programa vespertino e falou coisas que não eram verdade. Depois se arrependeu e veio a mim pedir desculpas, pessoalmente. Isso fica ruim. Ele fala publicamente e vem pedir desculpas em particular?", diz.

O comediante confirma que a Globo não queria os dois trabalhando juntos para não relembrar os Trapalhões. "Se eles quisessem relembrar, seria mais fácil colocar reprises no ar. 'A Turma do Didi' é totalmente diferente", disse Aragão, sobre o programa dominical que tem na emissora.

Aragão confirma que teria ligado para Dedé pedindo para que ele "tomasse cuidado" com o conteúdo de seu livro sobre os Trapalhões. "Isso faz muito tempo. A gente tem de preservar as pessoas, que podem ou não estar de acordo com o que está sendo escrito."

Ele desmente, no entanto, os valores citados por Dedé para exemplificar a diferença de cachês entre os integrantes do grupo. "Esses números estão errados. E cada um negociava seu próprio cachê, cada um tinha um empresário para cuidar disso. Eu negociava o meu." 

15/02/2004 - Folha de S. Paulo

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